(continuação)
"MOYERS: Quando leio essas histórias, qualquer que seja a cultura ou origem, tenho uma sensação de maravilhamento diante do espetáculo da imaginação humana, tateando, na tentativa de compreender esta existência, investindo em sua breve jornada tão transcendentes possibilidades. Isso já lhe aconteceu?
CAMPBELL: Eu penso na mitologia como a pátria das Musas, as inspiradoras da arte, as inspiradoras da poesia. Encarar a vida como um poema, e a você mesmo como o participante de um poema, é o que o mito faz por você.
MOYERS: Um poema?
CAMPBELL: Quer dizer, um vocabulário, não de palavras, mas de atos e aventuras, que conota algo transcendente à ação localizada, de modo que você se sinta sempre em acordo com o ser universal.
MOYERS: Quando leio esses mitos, simplesmente me dou conta do mistério disso tudo. Podemos pressupor, mas não penetrar.
CAMPBELL: Eis o ponto. Aquele que pensa ter encontrado a verdade definitiva está enganado. Existe um verso muito citado, em sânscrito, que também aparece no Tao Te King chinês: “Aquele que pensa que sabe, não sabe. Aquele que sabe que não sabe, sabe. Pois, neste caso, saber é não saber. E não saber é saber”.
MOYERS: Longe de minar minha fé, seu trabalho com a mitologia liberou minha fé das prisões culturais a que ela tinha sido sentenciada.
CAMPBELL: Liberou a minha própria fé, e sei que far á o mesmo com quem quer que aprenda a mensagem.
MOYERS: Alguns mitos são mais, ou menos, verdadeiros do que outros?
CAMPBELL: Todos são verdadeiros em diferentes sentidos. Toda mitologia tem a ver com a sabedoria da vida, relacionada a uma cultura específica, numa época específica. Integra o indivíduo na sociedade e a sociedade no campo da natureza. Une o campo da natureza à minha natureza. É uma força harmonizadora. Nossa própria mitologia, por exemplo, se baseia na idéia de dualidade: bem e mal, céu e inferno. Com isso, nossas religiões tendem a dar ênfase à ética. Pecado e expiação. Certo e errado."
"A mitologia é a música. É a música da imaginação, inspirada nas energias do corpo. Uma vez um mestre zen parou diante de seus discípulos, prestes a proferir um sermão. No instante em que ele ia abrir a boca, um pássaro cantou. E ele disse: “O sermão já foi proferido”."
"Uma coisa que se revela nos mitos é que, no fundo do abismo, desponta a voz da salvação. O momento crucial é aquele em que a verdadeira mensagem de transformação está prestes a surgir. No momento mais sombrio surge a luz."
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"MOYERS: Quando leio essas histórias, qualquer que seja a cultura ou origem, tenho uma sensação de maravilhamento diante do espetáculo da imaginação humana, tateando, na tentativa de compreender esta existência, investindo em sua breve jornada tão transcendentes possibilidades. Isso já lhe aconteceu?
CAMPBELL: Eu penso na mitologia como a pátria das Musas, as inspiradoras da arte, as inspiradoras da poesia. Encarar a vida como um poema, e a você mesmo como o participante de um poema, é o que o mito faz por você.
MOYERS: Um poema?
CAMPBELL: Quer dizer, um vocabulário, não de palavras, mas de atos e aventuras, que conota algo transcendente à ação localizada, de modo que você se sinta sempre em acordo com o ser universal.
MOYERS: Quando leio esses mitos, simplesmente me dou conta do mistério disso tudo. Podemos pressupor, mas não penetrar.
CAMPBELL: Eis o ponto. Aquele que pensa ter encontrado a verdade definitiva está enganado. Existe um verso muito citado, em sânscrito, que também aparece no Tao Te King chinês: “Aquele que pensa que sabe, não sabe. Aquele que sabe que não sabe, sabe. Pois, neste caso, saber é não saber. E não saber é saber”.
MOYERS: Longe de minar minha fé, seu trabalho com a mitologia liberou minha fé das prisões culturais a que ela tinha sido sentenciada.
CAMPBELL: Liberou a minha própria fé, e sei que far á o mesmo com quem quer que aprenda a mensagem.
MOYERS: Alguns mitos são mais, ou menos, verdadeiros do que outros?
CAMPBELL: Todos são verdadeiros em diferentes sentidos. Toda mitologia tem a ver com a sabedoria da vida, relacionada a uma cultura específica, numa época específica. Integra o indivíduo na sociedade e a sociedade no campo da natureza. Une o campo da natureza à minha natureza. É uma força harmonizadora. Nossa própria mitologia, por exemplo, se baseia na idéia de dualidade: bem e mal, céu e inferno. Com isso, nossas religiões tendem a dar ênfase à ética. Pecado e expiação. Certo e errado."
"A mitologia é a música. É a música da imaginação, inspirada nas energias do corpo. Uma vez um mestre zen parou diante de seus discípulos, prestes a proferir um sermão. No instante em que ele ia abrir a boca, um pássaro cantou. E ele disse: “O sermão já foi proferido”."
"Uma coisa que se revela nos mitos é que, no fundo do abismo, desponta a voz da salvação. O momento crucial é aquele em que a verdadeira mensagem de transformação está prestes a surgir. No momento mais sombrio surge a luz."
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